Envelhecimento Bem-Sucedido: Da Psicologia Positiva à Espiritualidade
Introdução
A sociedade atual debate-se com os desafios inerentes ao aumento da faixa etária idosa. Por sua vez, acresce-se a necessidade de reorganizar as políticas públicas, bem como fomentar programas e medidas que visem a manutenção da qualidade de vida nesta fase do ciclo de vida que contribuam para a promoção de um envelhecimento bem-sucedido.
As pessoas idosas com uma maior longevidade podem vivenciar períodos de sofrimento intensos, visto que nem sempre as gerações apresentam uma história de vida marcadas por bem-estar, saúde e qualidade de vida.
Por conseguinte, as questões associadas às perdas e mudanças decorrentes do processo de envelhecimento dão ênfase à espiritualidade como uma área de interesse no desenvolvimento deste ciclo. É neste sentido que a espiritualidade aliada à psicologia positiva se assume como uma importante dimensão na vida da pessoa idosa, visto que pode facilitar processos de adaptação a situações de vulnerabilidade pessoal, na medida em que engloba e transcende o conceito de saúde.
1. Psicologia, felicidade, bem-estar subjetivo e espiritualidade
1.1 Psicologia positiva – envelhecer positivamente
Com o avançar da idade e apresentando-se a finitude mais próxima, na perspetiva de Dias & Pais-Ribeiro (2018), as pessoas idosas parecem sentir menos esperança e perspetivas para com o futuro.
Antigamente a preocupação focava-se essencialmente com a área patológica. Com o surgimento da psicologia positiva de Seligman, a procura dos aspetos positivos da vida do ser humano para que este possa desfrutar da possibilidade de viver de forma mais gratificante, prevenir doenças e cultivar estados saudáveis de saúde começou a adquirir maior importância. Ou seja, adotar um estilo de vida preventivo ao longo de todo o ciclo vital e, desta forma, enaltecer as forças pessoais e sociais.
A psicologia positiva, conforme expõe Seligman (2004) cit in Camalionte & Boccalandro (2017), assenta-se em três pilares:
- Estudo das emoções positivas;
- Estudo dos traços positivos – forças, virtudes, inteligência;
- Estudo das instituições positivas – família, política.
Lavrar uma cultura positiva significa priorizar a felicidade, a resiliência, o otimismo, a gratidão, o prazer, a esperança, a coragem, a sabedoria, a criatividade e a espiritualidade, entre outros (Seligman, 2011 cit in Camalionte & Boccalandro, 2017).
Em suma, envelhecer positivamente baseia-se no cultivo do que de melhor existe no ser humano, como as virtudes e as forças de caráter, enaltecendo-se essencialmente a 24º força de caráter – a espiritualidade no núcleo da transcendência – oferecendo, desta forma, a possibilidade ao individuo de estabelecer uma conexão com o universo e, consequentemente, atribuir um sentido à sua vivência (Peterson et al., 2004 cit in Carlos, 2015).
1.2 Felicidade e bem-estar subjetivo
A felicidade é um sentimento subjetivo e uma emoção básica, associada ao conceito de bem-estar subjetivo pela sua amplitude e abrangência. Relaciona-se com os estados positivos de saúde e de satisfação com a vida. Compreende-se, então, que a ideia de felicidade é multifacetada, na medida em que depende da vivência pessoal de cada individuo e como cada ser se sente individualmente perante a sua própria vida.
Num estudo realizado por Camalionte & Boccalandro (2017) demonstram que servir a comunidade é um fator preditor de felicidade ("Gosto de estar envolvida em atividades que contribuam para o desenvolvimento de algo significativo para a sociedade (…). Sinto que posso ser útil (…")."
Pinto & Pais-Ribeiro (2007) estudaram o conceito – bem-estar espiritual – que se reflete nas ligações que a pessoa estabelece consigo mesma, com os outros, com o ambiente e com algo que transcende o domínio humano. Fernandes et al. (2020) reforçam a subdivisão de Blaikie & Kelsen (1979) em duas dimensões transcendentes bem-estar espiritual: a vertical assente no bem-estar na relação com Deus e a horizontal ligando-se ao sentido de propósito da vida e satisfação com a mesma, a solidariedade, o cuidado, sem que exista uma ligação religiosa.
Cita-se ainda McMahon (2009) cit in Camalionte & Boccalandro (2017), que refere que em tempos acreditou-se que "o homem feliz era idealizado como alguém que se aproximava dos deuses, que ultrapassava o meramente humano, que alcançara uma forma de transcendência". Por sua vez, Ferraz et al. (2007) consideram que a fé está ligada a índices mais elevados de felicidade, sendo a mesma praticada através da religião ou por meio da espiritualidade.
Em suma, as alterações decorrentes das doenças associadas ao processo de envelhecimento podem causar comprometimento na perceção de bem-estar e da qualidade de vida, afetando a autonomia. Assim, partindo-se do pressuposto que o estilo de vida atual não estimula os indivíduos a refletirem sobre os seus momentos de felicidade, optando por estados de constantes melancolias… poderá ser a espiritualidade o ponto de partida para um caminho que transcende este modo de vida?
1.3 Espiritualidade
A espiritualidade rege-se pela procura pessoal resultando-se em forças que impulsionam as conexões com o universo e que dão significado à vida, a reflexão profunda do "porque estou vivo?", podendo levar ou não à prática da religião (Koening et al., 2001 cit in Lucchetti et al. 2011). A prática espiritual facilita o contacto com energias que assentam no potencial ilimitado para melhorar a qualidade de vida das pessoas, podendo as mesmas experienciar uma existência mais completa.
Note-se que no oitavo estágio da Teoria Psicossocial do Desenvolvimento Humano de Erikson (Veríssimo, 2002), denominado Integridade versus Desespero, pode vivenciar-se uma crise sobre a vida passada e aquela que ainda virá a experienciar com o desejo de sentir prazer em viver e envelhecer com dignidade, podendo esta sentir-se realizada, ou pelo contrário, insatisfeita. Por conseguinte, experienciando o Desespero torna-se um ser mais vulnerável a experiências de fragilidade (por exemplo, a solidão, a morte e a desvalorização), o que favorece a prática da espiritualidade como uma dimensão essencial para a qualidade de vida destas faixas etárias.
Um estudo realizado em 2011 por Lucchetti et al. revela que as crenças pessoais têm impacto no envelhecimento bem-sucedido, assim como a capacidade de resiliência. Por outro lado, verificaram uma relação positiva e íntima entre espiritualidade e qualidade de vida, compreendendo-se que as pessoas idosas apresentam um sistema imunitário menos vulnerável, têm mais energia, uma melhor perceção de saúde física e mental, são mais felizes e assumem uma melhor recuperação da funcionalidade nos casos de reabilitação.
Também com a aproximação da morte, a pessoa idosa começa a refletir sobre o que pode advir após a mesma, pelo que a espiritualidade assume um papel crucial porque pode auxiliar a mesma a sentir um menor sofrimento e a melhor aceitação da própria morte e de entres queridos.
Em suma, Dias & Pais-Ribeiro (2018) nas suas pesquisas compreendem a espiritualidade como uma estratégia essencial e que influencia de forma positiva o bem-estar e a saúde física e mental dos indivíduos. A fé e o pensamento positivo auxiliam na perseverança perante os desafios do envelhecimento, oferecendo uma experiência de conforto e de alívio. Assim, a influência da espiritualidade sobre a qualidade de vida é compreendida no domínio psicológico, na medida em que se desenvolvem pensamentos e sentimentos positivos, o que confere satisfação à pessoa idosa.
1.3.1 Desenvolvimento transpessoal
O tema da espiritualidade foi negligenciado durante muito tempo na área da psicologia. Contudo, nos últimos anos, já se verifica uma maior preocupação em integrar essa área na terapia, como é o exemplo da terapia cognitivo-comportamental (Spiritually Augmented Cognitive Behavioural Therapy) que adaptada à espiritualidade demonstra os benefícios com o uso da meditação para o tratamento de depressão e de sentimentos negativos (Simões et al., 2023).
Tornstam (2011) na sua teoria da Gerotranscendência assume que o envelhecimento tem um potencial de amadurecimento numa nova perspetiva e compreensão da vida, substituindo-se a visão materialista e racional do mundo por uma visão mais cósmica e transcendente.
Por sua vez, a psicologia transpessoal incide na possibilidade de estudar e compreender os fenómenos espirituais com a existência de um "eu" superior ou espírito "que tem uma sabedoria única e conhece quais os seus desafios com vista ao pleno desenvolvimento" (Fonseca, 2010). Neste sentido, o Focusing, é um processo de atenção vivencial interativo que se rege por uma atitude gentil e acolhedora perante o modo como o nosso corpo sente e processa a vida que vivemos. O principal objetivo desta prática é proporcionar às pessoas a capacidade de acederem, intencionalmente, à sabedoria natural implícita no corpo humano, que nos permite a sua autorregulação ao longo da vida.
2. Envelhecimento bem-sucedido
Com o aumento da longevidade verifica-se a necessidade de criar estratégias que auxiliem na vivência de um envelhecimento mais saudável e com qualidade de vida.
O envelhecimento bem-sucedido surgiu nos anos 90, com o objetivo de encontrar um equilíbrio entre a capacidade da pessoa idosa e as exigências do meio ambiente, podendo estabelecer-se uma semelhança com o modelo de seleção, otimização e compensação desenvolvido por Baltes e Baltes em 1990 (Simões et. al., 2023). Contudo, o modelo de envelhecimento bem-sucedido foi restruturado por Crowther et al. (2002) com a inclusão da dimensão da espiritualidade para ajudar na redução das sensações de perda e de desespero no processo de doença.
A velhice é a última etapa do ciclo de vida, fator que reforça a importância de enaltecer as forças pessoais, as virtudes e as capacidades da pessoa idosa, enquanto ser adaptativo, desviando os pensamentos associados às perdas nesta fase da vida (Lima, 2004 cit in Fernandes et al., 2019). É neste pressuposto que a psicologia positiva, assume um cariz preventivo e uma intervenção decisiva para o aumento da qualidade de vida com a ressignificação apoiada em valores positivos no seu todo biopsicossocial.
Inevitavelmente qualidade de vida associa-se a um envelhecimento bem-sucedido. Por um lado, Marques, Sánchez & Vicario (2014) concluíram que para as pessoas idosas terem qualidade de vida inclui usufruírem de saúde, paz, harmonia, serem felizes, estarem satisfeitas com a vida, terem ocupações e manterem relações interpessoais com a família, amigos e vizinhos.
Por outro lado, Soares & Amorim (2015) demonstram no seu estudo a importância da esperança para esta faixa etária com uma correlação positiva esta dimensão e a espiritualidade, visto que quem perspetiva uma melhor qualidade de vida, assume um nível maior de esperança no futuro, perspetivando-o, desta forma, com otimismo.
2.1 Envelhecimento bem-sucedido ao olhar de uma Gerontóloga
O Gerontólogo fruto da sua perspetiva holística pode e deve questionar o significado de envelhecimento bem-sucedido de forma ilimitada. Isto porque o ser idoso é uma experiência única circunstancialmente dependente da evolução humana.
Na fase da velhice podem ser realizadas escolhas que influenciam de forma positiva todo o processo de envelhecimento, desmistificando preconceitos e estereótipos. Procurar um Gerontólogo, acreditar na capacidade inata do cérebro – neuroplasticidade e encontrar o sentido/propósito da vida são três das decisões a ponderar.
2.1.1 Escolha 1 – Procurar um Gerontólogo
O Gerontólogo intervém ao nível da avaliação multidimensional da pessoa idosa, assumindo-se este passo primordial para o planeamento dos cuidados individuais a serem prestados (diretos e indiretos). Este processo permite que seja estudado o perfil da pessoa idosa, as suas motivações e objetivos, as suas esperanças e necessidades (físicas, mentais, funcionais e sociais), abrindo-lhe o caminho para a sua autonomia, individualidade, para além de demonstrar-lhe que "é uma pessoa única, válida, que merece respeito, dedicação e atenção" (p.70, Vara, 2017).
É neste sentido que as intervenções orientadas e aplicadas pelo Gerontólogo assumem relevância, na medida em que para além de assumirem uma abordagem centrada na pessoa idosa, permitem que lhe seja devolvida a sua autonomia, que seja aumentada a sua autoestima e autoconfiança, a redução do sentimento de solidão, o fortalecimento das relações interpessoais no seio do grupo, o retardar da dependência física e/ou mental, bem como incentivar a pessoa idosa a olhar-se como um ser importante na sua "nova vivência" (Vara, 2017). Revela-se fundamental ajudar o individuo a pensar e a agir de forma criativa, inovadora e autêntica.
Por conseguinte, para que uma intervenção, independentemente da área, tenha o seu devido efeito é essencial que se incentive a uma prática consistente e diária para vivenciar a qualidade de vida no presente, isto é, escolher viver com as circunstâncias e dar um novo sentido positivo à vida (Oliveira, 2021). Assumir uma atitude positiva perante a vida e manter no auge o otimismo e a boa disposição, visto que contribuem como "amortecedores" dos acontecimentos menos bons.
2.1.2 Escolha 2 – Acreditar na capacidade inata do cérebro – neuroplasticidade
O sistema nervoso central é o responsável por receber e transmitir a informação exterior para todo o organismo e assume a capacidade de adaptação e readaptação a novos estímulos – neuroplasticidade (Caimar, 2020). Este fenómeno ocorre durante o ciclo de vida com o fortalecimento da conexão entre os neurónios – células que possuem a capacidade de estabelecer conexões entre si – pelo que quando se assiste a uma grande perda de massa encefálica, observa-se uma recuperação gradativa do individuo através das sinapses (Relvas, 2009 cit in Caimar, 2020). Assim, constata-se que o sistema nervoso é flexível possibilitando em qualquer fase da vida o desenvolvimento pessoal através da utilização de estímulos externos como a aprendizagem, as emoções, os sentimentos, por exemplo.
2.1.3 Escolha 3 – Encontrar o propósito/sentido da vida
Com a necessidade de ocupação do tempo é fundamental que se ativem competências de realização e compromisso, gerando-se um maior envolvimento e satisfação. A crise existencial – Viver para quê? – pode criar um impulso, uma oportunidade para preservar a manutenção de um compromisso ativo com a vida de realização pessoal. Neste sentido, em continuidade com a sua história pessoal ao envelhecer, e em função da nova situação concreta em que agora vive, poderá escolher construir um novo propósito de vida, reencontrando-se consigo mesma e a rescrever as suas memórias, de forma a desfrutar em plenitude da sua reforma.
Por sua vez, o coping religioso/espiritual consiste na utilização da fé, das crenças e a relação com a transcendência para uma melhor adaptação e gestão nas situações de crise (Pinto & Pais-Ribeiro, 2007). É, então, fundamental sentir cada nova experiência e aceitar o envelhecimento para que esta fase se flua naturalmente.
Em suma, incentivar a pessoa idosa a desenvolver uma consciência sábia no envelhecer ativamente perante as transições e desafios da vida, em prol do seu significado existencial.
3. Reflexão pessoal
A felicidade depende do grau de consciência que cada individuo tem perante os seus valores, crenças, pensamentos e sentimentos. Contudo, sabe-se que escolher olhar para as experiências como positivas contribui para a prevenção e promoção da saúde.
A resiliência, uma competência com um caráter potenciador para um envelhecimento feliz, afirma-se como uma competência mediadora entre a espiritualidade e a saúde. Esta transcende-se porque uma adversidade oferece-nos a oportunidade de crescimento interior. É, pois, nas adversidades, nas situações novas, que o ser humano conhece, por vezes, as suas forças interiores que desconhecia até então, o que favorece as suas potencialidades.
Por um lado, importa salientar que uma pessoa otimista e com esperança adere mais facilmente a hábitos que promovam saúde, além de se sentir mais motivado, investindo ativamente no seu processo de cura. Por outro lado, o processo de mudança é uma escolha que remete o ser humano, independentemente da idade, ao desafio na medida em que a mente é resistente tendo preferência por se manter num registo de sobrevivência. Importa, assim, ajudar a pessoa idosa a recordar-se dos momentos em que desconhecia a sua força interna para resolver os problemas atuais.
Sabe-se que as crenças positivas podem contribuir para a redução do stress, aumentando a sensação de bem-estar e a sua qualidade de vida. Assim, além dos caminhos já desbravados, coexiste a oportunidade de compilar o domínio espiritual na prática gerontológica para cultivar valores positivos e escolher viver com autonomia biopsicossocial, para além de aliciar à procura de novas investigações neste âmbito.
Viver espiritualmente acarreta uma intimidade individual que se traduz no SENTIR, na experiência de bem-estar existencial, atribuindo significado a: saber o que fazer e porquê, quem somos e onde pertencemos. Isto é, o encontro entre o equilíbrio do corpo e da mente.
Note-te que o autoconhecimento e autoaceitação são experiências para uma melhor adaptação nas situações de perda, de frustração, de doença, podendo ser a espiritualidade um meio de ligação para este desenvolvimento interior. Isto porque se existe um maior conhecimento sobre nós mesmos, também o corpo e a mente se exercitam para alcançar a plenitude das capacidades e, desta forma, cultivar maior positividade perante o SER, permitindo-se assim a experienciar as várias dimensões da vida humana plenamente.
Em última instância, escolher SER Gerontóloga é mais do que uma mera resma de conhecimentos. É uma escolha que se reflete em práticas dignas para contribuir para um envelhecimento bem-sucedido, de acordo com a longa história de vida pessoa idosa. Significa conhecer as suas vivências de felicidade, de modo a que lhe sejam também proporcionados sentimentos de valor pessoal, autoestima e bem-estar, conjugando com o desenvolvimento de novos projetos de vida, fazendo-a continuar a valer a pena.
Neste sentido, com o auxílio da psicologia positiva e da espiritualidade, desejo nas minhas intervenções cultivar valores assentes na felicidade, na autenticidade, no otimismo, na compaixão, no compromisso, no significado, no prazer, na coragem, no perdão, na integridade, na perseverança, na sabedoria e no estabelecimento de relações saudáveis, uma vez que quando se enaltece o que há de melhor em cada pessoa, incentiva-se a que a mesma assuma um papel ativo na própria mudança e do meio onde está inserido, cultivando emoções que propiciam um bem-estar de felicidade plena e qualidade de vida.
Importa ainda ressaltar que não existe uma única forma de viver um envelhecimento bem-sucedido. Existem sim diferentes caminhos e diferentes formas de os percorrer, estando ao alcance de cada pessoa que o ambicione.
Conclusão
A avaliação da satisfação com a vida resulta das emoções que sentimos e como lidamos com as mesmas durante um maior período de tempo. Felicidade, bem-estar e emoções positivas refletem-se em olhares positivos sobre o significado de envelhecer, visto que representam o que se pensa e o que se sente.
Neste sentido, modificar paradigmas sobre o envelhecimento acarreta estudar também os fatores intrínsecos e extrínsecos positivos como a sabedoria, as vitórias, a capacidade de resiliência, a ação da neuroplasticidade para o desenvolvimento de novas competências, reforçando que é uma meta alcançável a todos os seres vivos, independentemente da circunstância em que se encontrem. Isto é, além das fraquezas e das patologias existem também forças e virtudes. Apostar em identificar e nutrir os talentos, os pontos fortes, as qualidades e as potencialidades para que se possam ampliar e desenvolver e, desta forma, enaltecer a Integridade.
Os sentimentos, os pensamentos e as emoções negativas têm um peso avassalador na saúde física e mental de um indivíduo. Mas se se desenvolver uma perspetiva positiva e otimista relativamente à velhice, a atenção reverte-se para os aspetos positivos das pessoas e das situações, o que se reflete numa maior a facilidade em lidar com os desafios, resolvê-los e evitar preocupações, muitas vezes, imaginárias.
O bem-estar espiritual, variante de cultura para cultura, pode ter efeitos amortecedores perante o stress associado às mudanças nesta fase da vida, bem como contribui para a força interior e de realizações (Fernandes et al., 2020). E ainda ajuda o individuo a lidar com cada parte de si que vai envelhecendo, desenvolvendo uma nova compreensão de si-próprio e da sua circunstância. Neste sentido, Love & Talbot´s (1999) referem-se ao desenvolvimento espiritual como "um processo de busca de autenticidade pessoal, pureza e totalidade como um aspeto do desenvolvimento da identidade; transcendência contínua, conexão do self e de outros com a comunidade; sentido e objetivo de vida; abertura para explorar um relacionamento com um poder que existe além da existência humana" (cit in Silva, 2012, p.43).
Independentemente da escolha da pessoa idosa, importa reforçar que o crescimento e desenvolvimento pessoal é um caminho que se constrói num longo percurso de tempo, fruto da dedicação, consistência e do compromisso para consigo mesmo e com o mundo.
Em última instância, ser feliz em plenitude é um estado subjetivo. No entanto, valorizar a dimensão espiritual do individuo torna o acompanhamento mais holístico e humanista e, desta forma, encontra-se uma harmonia entre os afetos negativos e positivos. Em resumo, tal como enuncia Silva (2012) a espiritualidade pode:
A pessoa idosa tem potenciais para a mudança de circunstâncias da sua vida e de si mesmo, e tem muitas vezes reservas inexploradas. Importa desta forma olhar para a vida como um copo meio cheio para se abrirem novas possibilidades e, desta forma, desfrutar do melhor que cada circunstância pode oferecer.
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Realizei o presente trabalho no âmbito da Pós-Graduação em Psicogerontologia do ISPA - Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida, na Unidade Curricular Psicologia do Envelhecimento, no ano letivo 2023-2024. Apresenta como principal objetivo de analisar os contributos que a espiritualidade, como dimensão constituinte do ser humano, pode assumir para um envelhecimento bem-sucedido.
Texto redigido por Cuidar com Amor e Felicidade | Gerontóloga Magda Mendes